domingo, 19 de abril de 2009

25 de Abril

Ainda vale a pena comemorar o 25 de Abril?
A revolução do 25 de Abril de 1974 acabou, naquela altura, com a ditadura de Salazar. Depois desta data, e após alguns sobressaltos, a democracia consolidou-se e as pessoas puderam opinar livremente e constituir-se em associações. Volvidos 35 anos, continuamos a poder exprimir-nos livremente? Duvido muito. Ou seja, poder até podemos: escrevemos em jornais, nas revistas, na blogosfera, falamos na televisão, conversamos entre amigos ou em público. Mas falamos, salvo raras e louváveis excepções, com medo. Medo de represálias, de entrar em qualquer lista negra. Se não estamos com o chefe, então estamos contra o chefe (onde já ouvi isto?). Se criticamos o chefe, somos ostracizados e em última análise, afastados. Tudo isto, nos últimos tempos tem vindo a aumentar, aos olhos e ouvidos de todos. Estamos a ensaiar algum tipo de cegueira?
O fosso entre os mais ricos e os mais pobres vai aumentando. Com uma democracia, não devia, pelo contrário, estar a diminuir? Mas os ricos continuam ricos, os pobres mais pobres, e a classe média, garante e medida de uma nação evoluída, vai encolhendo, mingando. Nada contra os ricos, tudo contra os pobres, e absolutamente contra a destruição da classe média. Como se cria uma classe média forte? Bom, não sendo de forma alguma especialista, penso que esta depende claramente do nível e QUALIDADE de instrução de um povo, do dinamismo dos seus empresários, e da clarividência dos seus governantes. Os governos devem proteger e incentivar as classes médias. Não tenho visto, ultimamente, os médicos, juízes, enfermeiros, professores, etc. com muitos motivos para sorrir. Pelo menos, os grupos da classe média pertencentes ao Estado não têm muito para sorrir, acusados de todos os males da nação. Ninguém deita a culpa à classe média independente. Talvez se pretenda que se extinga a dependência do Estado, e paulatinamente, privatizar quase tudo (se é assim, deviamos, em prol da honestidade, admiti-lo abertamente). Diminuia-se assim a despesa pública, mas melhoraria o nível de vida do seu povo? Não acredito. Como pagariam as pessoas as despesas da educação, saúde, justiça...? Nos tempos da ditadura do Estado Novo, quem conseguia aceder ou vislumbrar o garante da educação, da saúde, da justiça... de si e da sua família? Poucos, muito poucos.
O 25 de Abril devia ter sido o garante da liberdade em Portugal. Liberdade para crescermos, liberdade para pensarmos, liberdade para dizermos o que pensamos, de forma crítica, aberta e construtiva. É isto que temos?

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Laicismo nas escolas

A religião está em todo o lado. E tem o direito de estar... ou não?

Entre outras, a religião está na Defesa, na Saúde e, principalmente, na Educação. Está nos capelães militares, nas prisões, nos hospitais e nos professores (muitos deles padres!) das escolas públicas e privadas.

Está, mas não devia! A religião devia manter-se na hemisfera do privado, nos locais de culto e só sair à rua, para quem quisesse, nas festas e romarias e demais actividades constantes dos calendários religiosos.
Na escola pública, devia manter-se e proteger-se a laicidade do Estado. Quem quisesse aprender religião, devia fazê-lo através dos recursos humanos, físicos e financeiros das instituições que as promovem. Os cristãos dirigiam-se às igrejas, os muçulmanos às mesquitas, os judeus às sinagogas...

Separem-se as águas!

terça-feira, 14 de abril de 2009

Ensino da Música

Porto, 13 Abr (Lusa) - O primeiro-ministro, José Sócrates, afirmou hoje na inauguração do Conservatório de Música do Porto que o Governo está apostado em "democratizar" o ensino da música, alargando-o a "cada vez mais jovens".

http://aeiou.expresso.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=ex.stories/508509

Democratizar... o quê? A Música? O Ensino? O Ensino e a Música? Ah, o ensino da música! Pois!
O povo português, se calhar, percebe pouco de música, senão não dançava ao sabor de qualquer canto de sereia. Talvez fosse mais importante democratizar primeiro o Ensino, apetrechando-o com qualidade, rigor e exigência. Preparar os portugueses para ouvir, ler, ver e sentir criticamente. Preparar as pessoas para pensarem por si, decidirem em consciência, serem interventivos, inventivos e audazes. Preparar os portugueses para um Portugal de futuro. Aí sim, o ensino da música abarcaria mais alunos, abertos e sensíveis a novas realidades, artes e oficios. Os próprios alunos procurariam o ensino da música, pois já seriam diferentes do que são agora.

Abrir novas escolas ou melhorar as existentes é bom, mas temo que o seja somente para aqueles alunos que já são capazes de saborear a música. O aluno comum pouco se interessa pelo seu ensino, pela sua aprendizagem. O que não quer dizer que não gostem de ouvir música popular, pimba, pop, tecno... gostam de a ouvir mas não de a aprender! Gostam que lhes digam mas não de pensar! Gostam que lhes mostrem como fazer mas não de criar! Assim vai o aluno/povo português.

Ensinar música é importante, mas ensinar a pensar, a criar e a ousar ainda o é mais. A primeira depende da última.

E isto é música para os ouvidos de quem?

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Livros


Mark Lynas ("Seis Graus") apresenta um possível futuro da nossa civilização se o actual ritmo do aquecimento global persistir. Por muito surrealista que pareça, esta obra não é ficção científica nem sensacionalista.
Imperativo ler.

“Deus não é GRANDE: Como A Religião Envenena Tudo” de Christopher Hitchens. Trata-se de uma espécie de desmonte das religiões usando argumentos de Wilde, Mencken, etc. O tipo de argumento que os religiosos reclamam por seu extremismo, mas que é delicioso de se ler.

Parlamento Europeu defende maior reconhecimento social dos professores

Educação - 02-04-2009 - 13:58

Maiores níveis de reconhecimento social dos professores e sistemas de avaliação orientados não só para os resultados quantitativos e os desempenhos dos alunos, mas também para a avaliação do próprio sistema, tendo em conta o contexto socioeconómico específico de cada escola, são algumas das recomendações hoje feitas pelo Parlamento Europeu aos Estados-Membros no âmbito da educação. Os resultados positivos do ensino dependem, segundo o PE, do "respeito assegurado à autoridade dos professores".
Os professores são uma peça essencial para uma escola de qualidade e, como tal, devem ser-lhes oferecidos "níveis de reconhecimento social, estatutos e remunerações condizentes com a importância das suas funções", defende o Parlamento Europeu na resolução "Melhores escolas: Uma agenda para a cooperação europeia".

http://www.europarl.europa.eu/news/expert/infopress_page/038-53238-091-04-14-906-20090401IPR53237-01-04-2009-2009-false/default_pt.htm


Está confuso?

Também eu. Este emaranhado em que se está a transformar a carreira docente evolui a passos largos para uma enorme, pegajosa e perigosa teia de aranha, à vista de todos, como um mortífero icebergue, o qual todos contemplam, mas que ninguém presta "atenção", principalmente o capitão do navio.

Bem-hajam!

10 mandamentos da educação

* Alterado/adaptado de um artigo de uma professora do ensino secundário (jornal Sol)

1.ª – O ensino unificado (5.º ao 9.º ano) não serve. Deveriam existir, pelo menos, dois currículos (eventualmente três), um deles com uma maior componente técnica, currículos diferentes não só no que respeita ao número, natureza das disciplinas e carga horária das mesmas como aos respectivos programas.
2.ª –A ausência de reprovações não responsabiliza nem alunos, nem pais, nem professores e compromete negativamente toda a aprendizagem dos alunos com dificuldades, mas a reprovação por si só também não tem a desejada eficácia. Por isso, a partir do 5.º ano, as disciplinas deveriam ter os programas organizados por níveis de aprendizagem, progredindo o aluno em cada disciplina de ano para ano por níveis, não podendo aceder ao nível seguinte sem o domínio do que é essencial do nível anterior. Completada a alfabetização/literacia a 100% do povo português, já seria possível a progressão sem reprovações, mas com diplomas finais distintos.
3.ª – A abolição dos exames foi um erro. A existência de exames (provas de avaliação externa) com um peso de 50% é essencial para a responsabilização de todos os intervenientes no processo educativo, desde o 4.º ano de escolaridade e a todas as disciplinas (no 4.º, no 6.º, no 9.º no Ensino Básico; e em cada disciplina terminal no Ensino Secundário).
4.ª – Os currículos estão desajustados. É necessário que tenham um número equilibrado e ajustado de disciplinas, devendo desaparecer desde já as instrumentais como, por exemplo, «Área de Projecto» e «Estudo Acompanhado».
5.ª – Os programas são responsáveis, em parte, pelos problemas da falta de competência dos nossos alunos. Deveriam ser claros, com os conteúdos muito bem explicitados (nomeadamente quanto ao grau de aprofundamento) e os objectivos muito bem definidos, sendo referidos os graus mínimos de consecução em cada ano.
6.ª – A escala de classificação de níveis de 1 a 5 aplicada do 5.º ao 9.º ano é má, pois propicia o laxismo e não incentiva as realizações dos alunos. Na escala de 0 a 20, um aluno que tenha 10 valores esforça-se e vê o seu esforço recompensado, passando a sua nota, por exemplo, para 12 ou 13, mas, na escala de 1 a 5, o mesmo esforço num aluno que tenha obtido 3 não o faz mudar de nível (continua no 3), o que, naturalmente, o desmotiva.
7.ª – O número de alunos por turma é outro dos problemas: turmas de 24 a 28 alunos não são compatíveis com uma aprendizagem de qualidade no tempo presente. As turmas deveriam ter no máximo 20 alunos.
8.ª – O absentismo dos alunos e a indisciplina são factores que comprometem a sua aprendizagem. O recente estatuto do aluno não foi feliz nas soluções propostas. É fundamental a incidência da responsabilização nos alunos e nos pais/encarregados de educação.
9.ª – A formação contínua tem sido muito heterogénea. Também aqui deveria haver uma intervenção directa do Ministério da Educação no que respeita aos objectivos e conteúdos, bem como à organização e à qualidade.
10.ª – A avaliação de professores deve ser feita tendo como referência um perfil do bom professor (ou boas práticas) no quadro dos grandes objectivos do Sistema Educativo – definido pelo Ministério da Educação. A partir daqui, ao nível da escola/agrupamento, quando fosse detectado um professor com dificuldades ou em falta, criar ou usar os mecanismos necessários para a sua avaliação construtiva.

domingo, 12 de abril de 2009

Não ao bullying!

Não passa um dia de escola em que não ocorra um caso de bullying. Seja um empurrão, uma ofensa verbal, uma calúnia, chantagem emocional ou psicológica…, e mais grave, várias situações associadas. O que vemos nas notícias, são gotas no Oceano que nos rodeia. São casos relatados, noticiáveis, porque propiciadores de audiências ou, em casos mais nobres, propiciadores de despertares de consciências.O bullying nas escolas acontece todos os dias, com maior ou menor incidência, com maior ou menor gravidade. Nas escolas coabitam alunos, crianças ou jovens adultos, o que por si só já implica desavenças ou desentendimentos próprios do crescimento humano, enquanto ser social ou sociável. Apesar de próprias do desenvolvimento humano, o advento das desavenças e o seu controlo já são passíveis de serem controladas. Para isso existem leis que regem as sociedades, as suas normas e condutas individuais e colectivas. Sem tais leis, a vida em grupo tornar-se-ia insuportável. Cada um faria o que queria, e todos nós sabemos, ou deveríamos saber, que a nossa liberdade acaba onde começa a dos outros, ou seja, podemos fazer o que quisermos se não prejudicarmos os outros, enquanto entidades individuais ou colectivas.A Escola, o Estado e a Família, entre outros, devem incutir nos seus educandos ou cidadãos, o respeito pelos outros e por si mesmos. Tal é possível com acompanhamento, educação, aprendizagem, avanços e recuos, prémios e castigos. Mas um dos problemas é que muitos alunos deixaram de ter acompanhamento parental e Estatal de qualidade, e sentindo-se, para mais, libertos de castigos, prevaricam a seu bel-prazer. As consequências tornaram-se triviais e os comportamentos desviantes e a violência habitual. E todos assistimos de braços cruzados, à espera de quê?

Escola a tempo Inteiro?

Escolas abertas 12 horas por dia? Acho mal. Deviam estar abertas 24 horas por dia. Ou seja, nunca estarem fechadas. Os Pais e os Encarregados de Educação podiam entregar os seus educandos na pré-primária e irem buscá-los no fim da universidade, ou quando tivessem emprego, melhor dizendo. A sociedade, diga-se, os professores, psicólogos, educadores, auxiliares, etc., que cuidem dos nossos rebentos. Cá por mim, dedicava o meu tempo ao trabalho, ao futebol, às viagens, à leitura, ao ócio. As trabalheiras com a educação dos meus filhos terminariam - sim, pois educar custa: tenho que me zangar, dizer não, abraçá-los, aconchegá-los, rir, correr, cozinhar, limpar, etc. Enfim, tenho que ter tempo para eles. Quando pensei em ter filhos, já sabia que assim teria de ser. Se não, não os teria tido, ponto final. Nós, pais, achamos que já não temos tempo para eles, que temos que trabalhar, trabalhar, trabalhar. E a Escola é a solução para tudo. Os pais que não têm tempo para os seus filhos, devem organizar a sua vida, pessoal e profissional, para ganharem tempo com os seus educandos. Os filhos precisam dos pais com eles. Pais que os amem, ouçam, castiguem, orientem. Devem ser a sua referência. Não devem ser ausentes. Por isso (também!) temos indisciplina e revolta no olhar e na alma dos alunos. Caminhamos alegremente para os velhinhos e saudosos colégios internos, agora subsidiados pelo Estado?
Espero que não. A escola é primeiro que tudo um espaço de ensino/aprendizagem. Não deve ser um ATL. Se nós, pais, queremos deixar os nossos filhos em locais seguros, depois da Escola, devem ser o Estado ou as Câmaras Municipais (ou privados) a proporcionarem esses espaços e actividades. Misturar Escola com actividades de entretenimento não é aconselhável - de todo. Os alunos tenderão a confundir ainda mais Escola com lazer. E sabemos, ou devíamos saber, que Escola não rima com lazer.
Pais, tomem a atitude certa: Escola a tempo inteiro não!